Como o RH e a tecnologia podem curar a saúde corporativa

Nos últimos anos, tem surgido um paradoxo que desafia o ambiente corporativo: enquanto de um lado cresce de maneira exponencial a preocupação das empresas com o bem-estar dos colaboradores, do outro, aumenta – talvez em proporção ainda mais acelerada – a dificuldade de oferecer acesso à saúde de qualidade. Isso porque, à medida que se amplia o interesse das organizações em assegurar uma assistência eficiente, eleva o custo da demanda. Nesse contexto, o cenário que se desenha é preocupante e exige uma reflexão urgente sobre como podemos cuidar de quem trabalha ao nosso lado, sem comprometer a sustentabilidade da empresa.

Dados do setor reforçam o desequilíbrio. Segundo levantamento da Arquitetos da Saúde, os convênios médicos acumulam um aumento de preço que chega a ser quatro vezes superior à inflação geral, na soma de 2015 a 2025. Nesse período, o reajuste da modalidade atingiu impressionantes 383,5%. As operadoras, então, se veem obrigadas a diminuir suas margens para permanecer com custos minimamente aceitáveis, o que prejudica os negócios em longo prazo.

No entanto, o que temos percebido é que essa conta simplesmente não fecha. A receita das organizações, mesmo as de grande porte, não acompanha essa escalada e o reflexo disso acaba sendo inevitável, como corte de benefícios, aumento da coparticipação, limitação no acesso ao cuidado, entre outras medidas que afetam diretamente a qualidade de vida dos colaboradores. 

A telemedicina como alternativa

Partindo dessa perspectiva, torna-se urgente a necessidade de buscar alternativas na forma como o cuidado corporativo é oferecido. É nesse ponto que a tecnologia aparece como um alicerce estratégico capaz de romper paradigmas e viabilizar um novo modelo de saúde empresarial. Quando tratamos de telemedicina, estamos discutindo sobre um atendimento até 10 vezes mais acessível e, em geral, tão impactante quanto o presencial. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Telemedicina e Saúde Digital, a resolutividade das consultas digitais chega a 91%.

A oportunidade do atendimento via hospital digitalizado traz consigo a chance de baratear custos, ampliar a rede de acesso à saúde em maior escala e, principalmente, um novo tipo de arranjo à organização do cuidado, muito mais robusto e ordenado. A tecnologia, portanto, contribui para organizar, estruturar e orientar a jornada do paciente de forma contínua, oferecendo uma nova experiência de acolhimento. A inteligência artificial, por exemplo, já é capaz de transcrever consultas, estruturar dados clínicos e influenciar diretamente o percurso de saúde do colaborador. Aliás, até mesmo os 9% de casos que exigem desdobramentos presenciais continuam sendo beneficiados por soluções digitais, capazes de integrar os serviços, além de encaminhar o paciente para exames e consultas assertivas às necessidades.

Mais do que meramente inovação, estamos tratando de eficiência e impacto real aos colaboradores. A saúde digital, com acompanhamento contínuo e direcionado, contribui para a redução significativa dos sinistros, além de melhorar indicadores importantes, como a diminuição de internações emergenciais, o aumento de diagnósticos precoces, a reeducação diante de exames desnecessários e a redução dos afastamentos.

Entre o mercado e os avanços da saúde digital

Apesar da eficiência, ainda há um obstáculo a ser superado: a distância entre as operadoras e os beneficiários. Essa desconexão dificulta a tradução das vantagens em soluções práticas dentro das empresas. É aí que entra o protagonismo para o setor de Recursos Humanos. Mesmo porque, é justamente esta a área que conhece com profundidade os talentos, compreende a cultura e demandas e lidera os canais para uma comunicação eficiente.

Sendo assim, é fundamental que o RH entenda sua função como elo entre o mundo corporativo e os avanços da saúde digital. Sem essa participação ativa, as operadoras não conseguirão promover as mudanças culturais necessárias para que a tecnologia cumpra seu papel de forma plena.

A transição para um modelo de saúde digital dentro das empresas exige mais do que ferramentas: ela requer principalmente uma mudança de mentalidade. Isso implica engajar, educar e transformar a cultura organizacional. É preciso dialogar com os colaboradores, desmistificar a tecnologia e expor seus benefícios de forma prática no dia a dia.

Mas isso só ocorre quando há conexão – e o RH será o agente indicado para construir essa ponte. Sua atuação deve ir além da gestão de benefícios, se estendendo à criação de treinamentos, à comunicação eficaz e à consolidação de lideranças engajadas e comprometidas com a causa. 

Considerando que cerca de 70% dos beneficiários de planos de saúde no país utilizam contratos coletivos empresariais, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), fica evidente que o papel das companhias é determinante nesse processo de transição da saúde. Sem um esforço real por parte do RH e a adoção das tecnologias modernas, os impactos serão percebidos em indicadores como absenteísmo, sinistralidade, produtividade e até aumento do turnover. O remédio está receitado, é hora das empresas iniciarem o tratamento.

Fonte: VOCÊRH

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